domingo, 27 de outubro de 2013

Mães adotivas: amor não depende de laços de sangue

“Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não se apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento”. Como bem descreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade, mãe é eternidade.

Irmãos Utiyama sentados na rede
Diva Utiyama já era mãe de três meninos quando adotou Francine, hoje com 22 anos. Segundo Diva, foi amor à primeira vista. “Sempre quis ter uma menina e aí conheci essa mãe que não tinha condições de cuidar da filha. Ela ficou grávida com 13 anos e a família era muito humilde. Quando vi a Francine, não tive dúvidas”.
A família, que já era grande, recebeu de braços abertos mais um integrante. Diva conta que todos são muito unidos e que desde sempre disse a verdade para Francine. A psicóloga Lidia Weber, pós doutora em desenvolvimento familiar e autora dos livros “Adote com Carinho” e “Laços de Ternura”, destaca a importância de conversar abertamente com o filho sobre o assunto. “Não deve existir um momento especial para contar, mas o assunto deve ser colocado na família e para a criança de maneira aberta, até mesmo antes de sua linguagem verbal formal. A criança compreende a adoção de maneira diferente dependendo de sua idade e fase do desenvolvimento, por isso a revelação não deve ser feita uma única vez.”
A psicóloga explica que é necessário falar de adoção, pois existem cerca de 40 mil crianças e adolescentes em abrigos brasileiros esperando uma família. “A adoção deve ser incorporada ao nosso pensamento como uma outra forma de formar uma família e não como algo ruim”. Casos como o de Diva e Francine são provas de que isso é verdade. A família, mesmo não sendo 100% biológica, não deixa de ser família. “Temos nossos desentendimentos normais, como de qualquer outra relação de mãe e filha, mas o amor é sempre maior que tudo”. Para Lidia, as relações de amor são construídas. “O que se sabe pela ciência psicológica é que todo amor é construído, todo amor é conquistado e exige investimento dia-a-dia. Todos os filhos precisam ser adotados, sejam eles genéticos ou não. Amor não vem de graça e não depende nem um pouco de laços de sangue”.
Mães adotivas: amor não depende de laços de sangueDiva se tornou cadeirante há dois anos. Ela conta que isso aproximou ainda mais as duas, pois a filha tem um cuidado especial com ela. “A Francine é uma ótima filha e tem muita paciência comigo”. Francine acredita que essa é uma chance de retribuir tudo o que a mãe fez por ela. “Deus faz tudo certo. O que era para ser está acontecendo. Minha mãe não conseguiu ter uma menina, fez uma boa ação, sempre me tratou com muito amor e é por isso que eu estou aqui. Dou muito valor a isso”.
A psicóloga explica que é importante enfatizar para o filho que não há nada de errado com ele e que ele foi para a adoção porque os pais biológicos não puderam criá-lo naquele momento da vida. “Não se deve falar mal da família de origem, pois é a única referência histórica do filho e ele vai carregar por toda a vida. É necessário afirmar que a adoção é um compromisso para sempre e que ele foi muito desejado pela família adotiva”.
De acordo com Diva, ser mãe é uma doação. “Eu penso muito mais neles do que em mim mesma, é um laço muito forte”. Francine conta que os pais têm uma importância muito grande na vida dela. “Sempre me educaram muito bem e me contaram a verdade sobre a minha história. Sou realizada com a família que eu tenho e muito grata por tudo o que eles fizeram por mim, me sinto honrada e muito feliz”.
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